Editorial

Trabalhado e Profissionalização

A história do trabalho é inerente ao homem, iniciamos tal processo de atividade quando passamos a realizar tarefas que garantiriam nossa sobrevivência e permanência em determinado espaço geográfico. Nesse conceito, a agricultura é uma das primeiras atividades pensadas pelo homem como meio de trabalho, há 12 mil anos, tendo os conhecimentos sobre cultivo adquiridos empiricamente e passados às futuras gerações de maneira prática, até o ponto em que estruturamos nosso modo de vida, e iniciamos o processo industrial.

Desde o início, eram árduos os vários tipos de trabalhos que realizamos, sendo sempre associados à força. Esse pensamento se estende ao longo dos tempos. Com isso, a criação de ferramentas, técnicas, maquinários e tecnologias foram ganhando espaço nas atividades, facilitando ou diminuindo o esforço humano para a execução de suas tarefas. Esse avanço nos processos produtivos foi crucial para que nos desenvolvêssemos como sociedade. E, a partir desse pensamento, criamos uma diferenciação que permanece até os dias atuais: o trabalho braçal e o intelectual. O primeiro se caracteriza ainda pelo uso da força física, enquanto o segundo é evidenciado pelo conhecimento adquirido e aplicado.

Nesse ínterim, foi disseminada uma visão de que o trabalhador rural é uma pessoa que só precisa de força, sendo a aquisição de conhecimento não necessária para exercer sua atividade. Com isso, foi propagada a visão do Jeca – morador da roça, sem estudo, levando uma vida simples. Mas hoje a situação no campo é bem diferente do estereótipo disseminado a partir do advento da industrialização, quando o público urbano passa a ser peça fundamental do desenvolvimento social. Cada vez mais a agricultura exige de seus trabalhadores um conhecimento e uma formação específica para obter resultados frutíferos. Vivemos numa época em que a informação e o conhecimento estão presentes em qualquer atividade, inclusive no campo. O uso de máquinas computadorizadas é o maior exemplo desse cenário. Antenas parabólicas e telefones móveis não representam nenhum bicho de sete cabeças para quem precisa se interar dos fatos e interagir com o resto do mundo. E isso não fica só na tecnologia. Há também o conhecimentos para se fazer plantio, cultivo, colheita, entre tantos outros. Sem falar no econômico e o logístico; para trabalhar com a comercialização e conceber a melhor maneira de escoar sua produção. Ou seja, todas as etapas da produção agrícola necessitam de determinados conhecimentos. Tal avanço beneficiou vários setores, como a própria agricultura, mas também trouxe consigo diversas problemáticas. A maior delas no campo é que muitos trabalhadores rurais não tiveram oportunidades educacionais, e agora sofrem com o desemprego.

A Fetaesp procura combater esses problemas. Firmamos várias parcerias com entidades e governos para propiciar diretamente a capacitação e a profissionalização de trabalhadores rurais. Através de cursos com certificação, eles podem se manter no mercado de trabalho, e conseguir desenvolver sua carreira, e alguma atividade rural. Também oferecemos um programa de alfabetização para combater o analfabetismo no campo. Através do programa Jovem Aprendiz, fomentamos o interesse da juventude rural pela atividade de seus antecessores, oferecendo uma capacitação que engloba o desenvolvimento das competências básicas necessárias a todo tipo de trabalho no campo. Além disso, realizamos por todo o território paulista, uma média mensal de 60 cursos de formação social e profissionalizantes, sem custos para os participantes.

Vejo que, com o passar dos cursos realizados, os resultados obtidos demonstram que este é um caminho a ser seguido e almejado por toda a sociedade. Atualmente, a educação e o acumulo de conhecimento são os reais requisitos que devemos ter para nos sobressair e desenvolver nosso trabalho, em qualquer setor, seja ele urbano ou rural. A figura do Jeca não condiz mais com a condição do homem do campo, mas sim daqueles que não acompanham nossas mudanças sociais.

Braz Albertini foi presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo.

Uma resposta para “Editorial

  1. Pingback: Presidente da Fetaesp publica artigo sobre feiras agropecuárias « Blog da Fetaesp

Deixe um comentário